Outubro Rosa
Prevenção do Câncer de Mama
Uma em cada oito mulheres terá câncer de mama ao longo da vida.
• 85% das mulheres com Ca de mama não têm antecedentes familiares
• 95% das mulheres com câncer de mama não têm mutação genética hereditária.
Assustador, não?
Por isso, convidei o mastologista e colega Luciano Moro para esclarecer alguns pontos de relevância para o monitoramento da saúde das mamas.
Prevenção, sem dúvida, é a palavra de ordem.
Corro risco?
Dr. Luciano Moro – Para falar sobre o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama é importante saber que há três grupos de risco (de desenvolvimento de câncer de mama do nascimento até os 90 anos):
1. Risco habitual: 14% (a grande maioria das mulheres)
2. Aumentado: entre 14% e 25% (algumas mulheres)
3. Alto risco: > 25%. (poucas mulheres)
Causas? Acredita-se que a causa do câncer seja multifatorial na grande maioria dos casos, uma vez que a maior parcela das mulheres com câncer de mama não apresenta antecedentes familiares.
Sabe se que o maior grupo de mulheres que são acometidas pelo câncer de mama está na perimenopausa e com sobrepeso.
Nos EUA há 2,5 vezes a maior ocorrência de câncer de mama do que no Brasil, país com população “apenas” 1/3 maior que a brasileira. Vale destacar que a obesidade é um problema muito sério nos EUA. Tem relação com estilo inadequado de vida: dieta rica em gordura saturada, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de bebida alcoólica, etc.
Existem outras questões relacionadas ao câncer de mama?
Dr. Luciano Moro – Na prática, a idade da primeira menstruação, da menopausa, e tempo de amamentação, pouco impactam na redução ou no aumento do risco. A variação na ocorrência do câncer mamário pode, na realidade, estar relacionada com um fator comum e central aos acima citados: a densidade mamária.
Qual a faixa etária mais atingida?
Dr. Luciano Moro
1. 50-65: mais comum
2. 40-50 e 65 a 75 anos
3. Pode ocorrer em faixas etárias mais jovens e em mais idosas, mas em menor frequência.
Quais as orientações para mulheres mais jovens?
Dr. Luciano Moro
• Se estiverem no grupo de risco habitual: autoexame uma vez ao mês, sempre após o fluxo menstrual (as que não menstruam devem fazer o autoexame no mesmo dia do mês). Iniciar mamografia anual aos 40 anos.
• Se estiverem no risco aumentado ou alto risco: antecipar o início da mamografia para os 35 anos ou dez anos antes do primeiro caso de câncer de mama na família e associar o exame de ressonância no alto risco. O autoexame segue as mesmas orientações do grupo de risco habitual.
Mulheres cada vez mais jovens sofrerão de câncer de mama?
Dr. Luciano Moro – Objetivamente, não. A incidência do câncer, de forma geral, vem aumentando a cada ano. Este incremento de novos casos ocorre em todas as faixas etárias, inclusive nas mais jovens. No entanto, há ainda maior ocorrência do câncer de mama na faixa etária entre os 50-65 anos.
Vale dizer que existem jovens com cânceres de “bom comportamento” e mulheres mais idosas com tumores mais agressivos. Não podemos afirmar que os tumores em jovens sempre sejam piores que os que acometem pessoas em faixa etária maior.
Qual a frequência com que se deve realizar a mamografia?
Dr. Luciano Moro – Mulheres entre 40 e 70 anos devem realizar o exame uma vez ao ano, podendo, a primeira mamografia (de base) ser feita entre 35 e 40 anos. Antes dessa faixa etária, somente aquelas pacientes consideradas de alto risco devem fazer o exame. Após os 70 anos, pacientes com mamas densas devem manter o rastreamento anual.
Se a mamografia for negativa, mas houver queixa palpável, a ultrassonografia deve ser realizada. Para mulheres acima de 40 anos, o ultrassom não substitui a mamografia. Apenas complementa. Já a ressonância magnética possui indicações ainda mais específicas.
Para eliminar qualquer tipo de dúvida sobre a segurança da mamografia, é importante enfatizar que a carga de radiação envolvida no exame é 33 vezes menor que a de um raio-X de tórax e ainda menor que a dose de tomografias.
Quais os sinais e sintomas mais frequentes e menos frequentes?
Dr. Luciano Moro – Embora possamos listar alguns sinais e sintomas clínicos, devemos enfatizar que é fundamental detectar a doença na fase subclínica (antes de se manifestar clinicamente). Nesse contexto a realização da mamografia de rastreamento é essencial.
Quais são os sintomas mais comuns?
Dr. Luciano Moro – Podemos citar pelo menos quatro sintomas:
1. Nódulo palpável (mais comum)
2. Abaulamento ou retração de pele ou papila
3. Fluxo papilar unilateral (sanguinolento ou cristalino: água de rocha)
4. Nódulo palpado na axila
E quanto aos fatores de risco?
Dr. Luciano Moro – De modo simples, o grupo mais acometido seria:
• Mulheres entre os 50-65 anos, com sobrepeso. Lembremos que 85% dos casos ocorrem em mulheres sem antecedente familiar e que 95% não possuem mutação genética germinativa, ou seja, não herdaram mutação.
Alguns fatores que aumentam o risco:
• Mamas densas (e todos os fatores que possam influir na densidade mamária: idade da menarca e menopausa, amamentação, etc)
• Sobrepeso e obesidade ( e todos os fatores que podem influir nestes: sedentarismo, consumo excessivo de álcool, de gordura saturada, etc)
• Uso de terapia de reposição hormonal por mais de dez anos
Aqui vale ressaltar que existe uma diferença entre induzir (iniciar, causar) e promover (estimular). É preciso deixar claro que NÃO há comprovação até o presente momento de indução de carcinogênese pelo uso de hormônios, mas há indícios suficientes sim, de promoção. Ou seja, o hormônio pode estimular o crescimento de um tumor que já existia ou que já estivesse “desenhado” para existir por outros múltiplos fatores.
Fatores de risco mais específicos:
• Antecedente pessoal de radioterapia no tórax antes dos 20 anos
• Antecedentes familiares: familiares de primeiro grau; câncer de mama bilateral, em idade < 50 anos; câncer de mama em homem; câncer de ovário em familiares de primeiro grau.
• Pacientes portadoras de mutação genética germinativa (incomum: 5% das causas de CA).
• Pacientes com diagnóstico de hiperplasias atípicas em biópsias anteriores).
Todo nódulo precisa ser investigado? Qual a orientação?
Dr. Luciano Moro – Não. Apenas os nódulos com aspecto radiológico e/ou clinico suspeito para malignidade (BI-RADS 4 ou 5).
O fato do nódulo ser palpável não o torna suspeito. Apenas se tiver características clinicas ou radiológicas suspeitas. O antecedente familiar não indica biópsia para um nódulo de aspecto sugestivo de benignidade, ainda que palpável. O que determina definitivamente a suspeita é o aspecto radiológico do achado. A investigação de nódulos classificados na categoria 3 (ACR BI-RADS) é restrita a casos selecionados.
Quando a mulher tem o diagnóstico, em que ela deve se atentar antes de iniciar o tratamento?
Dr. Luciano Moro
1. Planejamento é o mais importante. Esgotar toda a avaliação sobre o tumor antes de iniciar o tratamento. Nem sempre o tratamento se inicia através da cirurgia. Correr não é cuidar melhor. Agilizar o processo sem pular etapas é a medida ideal.
2. Compreender que remover as duas mamas não é a conduta mais adequada para a maioria das pacientes.
3. Cada tumor deve ser avaliado individualmente. Os tumores podem ter características diferentes, exigindo tratamentos completamente distintos.
4. Se a paciente for jovem, não tiver filhos ou pretender engravidar e tiver a perspectiva de fazer quimioterapia, deve ser orientada sobre a criopreservação de óvulos ou tecido ovariano (menos adequado) antes da quimioterapia.
O que significa ter predisposição genética para o CA de mama? Qual a orientação para este grupo de pacientes?
Dr. Luciano Moro – Cerca de 5%, uma minoria das pacientes com câncer de mama, nasceram com uma mutação genética hereditária (germinativa) e predisposição genética para câncer de mama. A maioria adquire a mutação (somática) por motivos desconhecidos durante a vida.
As pacientes com mutação genética ao nascimento costumam ter história recorrente de câncer na família e, muitas vezes, em idade jovem.
Nem toda mutação vai causar câncer nas suas portadoras. As mutações são chamadas de patológicas quando têm poder reconhecido de causar câncer.
Algumas mutações podem ter uma penetrância de até 85% (risco de determinar câncer nas suas portadoras). As pacientes com mutação genética patológica devem:
1. Iniciar rastreamento em idade mais precoce com acompanhamento de mastologista e radiologista mamário especializado.
2. Utilizar a ressonância de mamas como instrumento de rastreamento (este exame deve ser realizado na fase certa do ciclo menstrual, em equipamentos adequados e avaliados por radiologistas especializados).
3. Consultar oncogeneticista sobre a indicação de: profilaxia medicamentosa e cirurgia redutora de risco
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